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A relação entre gripe por influenza e a saúde do coração.

As epidemias por influenza chamam à atenção todos os anos, e juntamente com elas chama à atenção uma parcela significativa da população que se recusa à vacinação, seja por medo de efeitos colaterais, seja por dúvidas em relação à sua eficácia.

Há dados lançados recentemente pelo CDC norte-americano e reproduzidos pelo jornal NYTimes que alarmam que a epidemia de influenza 2017-2018 nos EUA já ultrapassou o pico dos demais anos e ainda está em ascensão, como no gráfico aqui reproduzido.

Se a própria redução de casos graves de influenza, com comprometimento das funções respiratórias, já não era suficiente para convencimento da população quanto a vacina, agora novos dados publicados pelo The New England Journal of Medicine trazem um alarme em relação à doença e o risco subsequente de infarto agudo do miocárdio - o popular ataque cardíaco. Esta relação entre gripe por influenza e doenças cardiovasculares foi notada há muitos anos, já na década de 30. É possível encontrar diversos estudos correlacionando as doenças principalmente na última década, mas a evidência está evoluindo progressivamente, uma vez que este novo estudo comprovou laboratorialmente a infecção pelo vírus da influenza nos pacientes acometidos.

Capa do jornal The New England Journal of Medicine de 27/01/2018

Capa do jornal The New England Journal of Medicine de 27/01/2018

Nota-se que a maioria dos estudos que encontraram tal relação, buscaram-na entre os pacientes que sofreram o infarto agudo do miocárdio. Ou seja, notou-se que entre as pessoas que tiveram infarto E obtiveram teste positivo para influenza, houve uma grande relação entre ambos os achados de ocorrerem dentro da mesma semana, levantando a hipótese de que a infecção pela influenza pode estar atuando como gatilho do surgimento da síndrome coronariana aguda. Este e outros estudos têm diversos problemas metodológicos, como por exemplo o diagnóstico de infarto ser presumido a partir dos dados administrativos do hospital, ao invés de através de exames como eletrocardiograma, enzimas cardíacas, entre outros.

Quando você observa os dados do estudo, verifica que 74% da população tinha mais de 65 anos, 50% eram diabéticos, 85% eram hipertensos, ou seja, pacientes com chance maior do que a população geral de apresentar doença coronária.

De forma simplista, uma infecção respiratória tem potencial de elevar a frequência cardíaca, reduzir a entrada de oxigênio, aumentar os níveis de adrenalina, de aumentar a chance de uso de anti-inflamatórios e medicações vasoconstritoras (como as pseudoefedrinas). Além disso, qualquer infecção pode aumentar a coagulabilidade do sangue, podendo gerar trombos. Assim, aumentando o gasto energético cardíaco, e predispondo à obstrução de vasos sanguíneos com a formação de coágulos, é possível haver descompensação de algum paciente que eventualmente já tenha um comprometimento das artérias coronárias, gerando um infarto agudo do miocárdio.

Acho pouco provável que isto ocorra em pacientes sem risco aumentado de doença coronária como o da população do estudo, mas mais dados são necessários para se ter definitiva certeza.

Os pacientes com mais idade e mais risco de doença coronária, por outro lado, devem fazer acompanhamento com seu médico, uma vez que tratando uma eventual coronariopatia estariam muito mais protegidas dos efeitos deletérios de uma síndrome gripal.

A grande lição destes estudos, ao meu ver, é a importância da vacinação anual para influenza em toda a população - para evitar a circulação do vírus - e em especial da população mais idosa e com mais chances de obstruções nas coronárias, para evitar repercussão cardíaca desta doença.

Referências:

Warren-Gash C, Hayward AC, Hemingway H, et al. Influenza infection and risk of acute myocardial infarction in England and Wales: a CALIBER self-controlled case series study. J Infect Dis 2012; 206: 1652-9.

Lorcan Ruane, Thomas Buckley, Soon Y. S. Hoo, Peter S. Hansen, Catherine McCormack, Elizabeth Shaw, Judith Fethney, Geoffrey H. Tofler. Triggering of acute myocardial infarction by respiratory infection. Internal Medicine Journal, 2017; 47 (5): 522

Kwong JC, Schwartz KL, Campitelli MA, Chung H, Crowcroft NS, Karnauchow T, et al. Acute Myocardial Infarction after Laboratory-Confirmed Influenza Infection. N Engl J Med. 2018;378(4):345-53.

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